quarta-feira, 30 de março de 2016

Quem sois?


            Dia desses, numa rede social, vi uma frase que mencionava, dentre outra coisa, a questão das pessoas não serem, verdadeiramente, aquilo que demonstram. Me pergunto: e daí? Cada um se reveste daquilo que lhe for mais conveniente. 

            Há uma frase atribuída ao diretor teatral russo Nicolas Evreinoff: Somos seres essencialmente teatrais. Relata-se que ele queria dizer algo como que o ser humano tivesse a capacidade de criar algo para sobrepor as mazelas de sua vida. Penso que seja exatamente isso. Ou, em outras palavras, dançar de acordo à música. Ou seja, tendemos a nos ajustar às situações sem, com isto, perdermos a nossa identidade. Assim, podemos voltar à frase com que iniciei este texto. 

            Por mais que tentemos nos incorporar a algum cenário de forma menos dolorosa para nós mesmos ou, ainda, mesmo que criemos uma personagem para vivenciar alguma experiência, nossa natureza íntima se manterá e, em dado momento, não mais conseguiremos prosseguir no enredo. É como se a personagem envelhecesse e morresse. 

            Neste ponto, nossa máscara cai. Mas, e daí? De quem é a responsabilidade por isso, senão do próprio “ator”? 

            Para nós outros, que apenas participamos da encenação da vida real desse ser como figurantes, não raro, fica a frustração por começarmos a enxergar um ser que não conhecíamos. Sentimo-nos como que traídos. Isto se dá pela mania, quase visceral, de esperar algo do outro. Todavia, nossa aflição, nossa frustração e nossa dor, com uma boa dose de racionalidade, passará. Já para o  ente que elaborou o elemento fictício, caberá responder por alguma arbitrariedade e por seus males, caso os tenha cometido. Afinal, somos responsáveis por nossos atos, aqui e acolá. 

            Há pessoas que só conseguem sobreviver encarnando, a todo momento, personagens mil. Isto, por si só, não significa erro ou desvio de conduta, afinal ninguém vai à um velório para ficar dando risadas, assim como ninguém vai à um show de comédia para chorar. 

            Logo, antes de fixarmos um rótulo em quem quer que seja, precisamos apreciar minuciosamente seus atos, com imparcialidade e racionalidade, para que não sejamos os próximos a serem avaliados pelas Leis Naturais. 

Jáber Campos - Aprendiz de gente.



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